25 fevereiro 2010

Momento de infância feliz

Todas as pessoas têm a sua história. Todas as pessoas têm pequenos pedaços de histórias com que vão delineando as suas vidas. Todas as pessoas têm a sua própria agulha... aquela com que costuram as linhas da sua vida. Eu tenho uma história, construída de vários pedacinhos de histórias da minha vida. Alguns pedacinhos não são lá muito bonitos, mas sem eles a minha história estaria incompleta por completo!! Conseguem imaginar uma manta de retalhos? Lindas, não são? É assim que quero que imaginem a história da minha vida.
Neste momento, as pessoas que por aqui passam vão poder pegar num retalho da minha vida e admirá-lo, como eu o admiro!
No âmbito da campanha "ajude a tornar o mundo cheio de momentos de infância felizes" , lançada pelas Aldeias S.O.S., como não podia deixar de ser, eu participei com o meu testemunho de "momento de infância feliz"
Este foi o retalho que alterou o rumo da minha vida:


"O meu momento de infância feliz?? É simples!! Foi no dia 2 de Outubro de 1986... Tinha eu 8 anos. De tão pequenina [ainda hoje com 30 (e um) continuo pequenina], eu nem sabia que no mundo existiam maternidades como aquela. Onde os filhos já nascem crescidos e as mães dão à luz com o coração. Mais do que isso, amam-nos como se tivéssemos saído da sua própria barriga. E o mais incível no meio disto tudo, é que os filhos podem chegar à maternidade antes das mães, até mesmo antes da maternidade abrir!! [mas que raio de conversa é esta - pensam alguns de vocês]!!
Pois é... facto, facto, é que aconteceu comigo! Depois de alguns retalhos da minha vida menos felizes, finalmente tinha encontrado um pedaço bem bonito para juntar à minha 'manta'!!
No dia 1 de Outubro de 1986 fiz uma viagem [lembro-me como se fosse ontem] de Peniche até à Guarda a caminho da tal maternidade. Sentia ansiedade, muita muita ansiedade e na minha cabeça de menina todos os pensamentos voavam a mil. O que eu sabia é que ia ter uma mãe... Caramba, uma mãe!!
Finalmente, tínhamos chegado à tal maternidade onde se dá à luz com o coração. Do lado direito estavam erguidas 3 casinhas. E a única coisa que me lembro de ter pensado na altura foi: "que casinhas tão bonitas" [é que vocês não sabem mas, até então, eu nunca tinha vivido numa casa a sério, mas a barraca onde vivi até era bem fixe porque tinha cortinas penduradas a fazer de paredes interiores e assim eu tinha um quarto só para mim!! :P]!!


Nessa noite fiquei em casa dos "senhores que estavam a tomar conta da maternidade" porque a minha nova mãe ainda não tinha chegado...
Acreditam que nessa noite nem consegui dormir?? Ah pois é!! Na minha cabecinha de menina voavam estrelas e mais estrelas. E em cada uma delas eu imaginava o rosto da minha nova mãe... Foi assim até de manhã e, com o nascer do sol, a maior estrela do universo, eis que ela chega. De sorriso nos lábios e de braços abertos para me acolher. Algo me empurrou até aos braços dela e senti o seu carinho como se a conhecesse desde sempre. Não há como descrever a alegria que senti.
Aquela desconhecida, já de idade avançada e viúva, tinha chegado para ser a minha mãe!! Obrigada minha querida Maria Alice , por seres A minha mãe!"


Nota: Este texto não é exactamente o mesmo que o que eu deixei no sítio das Aldeias S.O.S., mas lá o número de caracteres é limitado.

Como é possível uma história destas? É possível graças ao grande fundador das Aldeias de Crianças S.O.S. Transcrevo, abaixo, um excerto que se pode encontrar no sítio das Aldeias de Crianças SOS:
"As Aldeias de Crianças SOS têm a sua origem na Áustria. O seu fundador Hermann Gmeiner conseguiu aplicar uma ideia fundamental e realizar um sonho: dar uma mãe, irmãos, irmãs, uma família e um lar às crianças órfãs e abandonadas da 2ª Guerra Mundial. Em 1949, em Imst, nasceu a primeira destas aldeias familiares.
15 anos depois, em 1964, é fundada a Associação das Aldeias de Crianças SOS Portugal (...). Tem como objectivo o acolhimento de crianças órfãs, abandonadas ou pertencentes a famílias de risco que não podem cuidar delas, proporcionando-lhes um modelo familiar de cuidados a longo prazo e uma formação sólida para alcançarem uma vida autónoma e a integração plena na sociedade.
(…)
Em Portugal existem três Aldeias de Crianças SOS. A primeira Aldeia foi inaugurada em 1967 em Bicesse (Cascais) a 25 Kms de Lisboa. As restantes Aldeias situam-se em Gulpilhares (V.N.Gaia)Rio Diz, na Guarda [foi nesta “maternidade” que nasci mas, um ano depois, com os meus irmão e a nossa mãe, mudámo-nos para Bicesse, onde permaneci até aos 21 anos].
Desde Outubro de 2006, está em funcionamento a nova Residência de Jovens em Rio Maior, para jovens das Aldeias SOS, que frequentam cursos de formação profissional, nomeadamente em escolas profissionais em Santarém. Outras actividades estão previstas neste espaço como centro de formação de recursos humanos e campo de férias.
Para além das Aldeias de Crianças e Residência de jovens, existe um Centro Social em Bicesse, que dá apoio às mães reformadas [a minha mãe, hoje com 81 anos, vive no Centro Social] e a pessoas idosas da comunidade [em tempos integrava também uma creche que servia a Aldeia e a comunidade]. Há ainda outros projectos de apoio social em estudo destinado a crianças em risco."

E esta foi uma parte da história da minha vida. Desde já deixo aqui um convite para conhecerem de perto esta maravilhosa obra de solidariedade social em Aldeias de Crianças S.O.S. de Portugal



 

"Every big thing in our world only comes true, when somebody does more than he has to do."
Hermann Gmeiner






Sabiam que:

  • Existem hoje 452 Aldeias de Crianças SOS em todo o mundo, que oferecem um lar a 47.400 crianças.
  • Um conjunto de 1.400 instituições SOS (jardins de infância, lares de jovens, centros sociais e médicos) presta auxílio a mais de 600.000 beneficiários em 132 países.
ProntoS! Já partilhei um retalho da minha vida com vocês.


Beijinhos ::lala::


Ps: Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii ca post tã grandi!! O_o

18 comentários:

  1. Minha querida Lala, obrigada por seres assim, eu já conhecia a tua história mas não desta forma tão bonita escrita em letras sobre as letras. Um beijinho do fundo do coração. Isto para mim não é um retalho é logo a manta completa.
    Um beijo grande Caty

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  2. Que coisa mais linda, Lala! Que momento de infância feliz! Obrigada por partilhares um retalho tão emocionante da tua manta connosco. Obrigada igualmente por divulgares as Aldeias SOS Criança. Muito, mas muito obrigada!

    Um beijo muito grande à Mãe Alice, pelo maravilhoso gesto de amor e pela enorme coragem de ter dado à luz com o coração.

    Um grande bem-haja, Lala :)

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  3. Lala, deixaste-me á beira das lágrimas sabias? Sabes que eu apesar de ter uma mãe, mãe que é maravilhosa, sei que mãe não é apenas aquela que nos dá à luz. Mãe é aquela pessoa que está ali do teu lado, te ama incondicionalmente quer seja mesmo fisicamente tua mãe ou não. A minha mãe para além de minha e da minha irmã, foi mãe de tantos outros meninos que amou tal como nos amou a nós, em igualdade de circunstâncias e até hoje esse amor perdura, tanto de um lado como do outro. Isso sim é uma forma de amor linda, obrigada por partilhares conosco... bjs

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  4. Não fazia a mínima ideia deste "retalho" da tua vida e estou encantado que o tenhas aqui posto: a Blogosfera ficou mais rica e tu subiste muitos pontos na já alta consideração que tinha por ti.
    Permite-me um beijinho muito especial hoje; bem o mereces.

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  5. Este retalho da tua vida não me era desconhecido. Conheço bem a Aldeia S.O.S. do Rio Diz. Ajudei-a alguma vezes. Foi aí que tive conhecimento do seu funcionamento que acho exemplar. É criada uma família real que dá bons frutos. Os miúdos sentem da parte da Mãe que os cuida um carinho real. Há nessas famílias muita entreajuda. Lala tu sabes, melhor que ninguém, que os retalhos menos bonitos, como dizes, nos dão uma força irreal e nos ajudam a compreender a vida. A tua maneira de ser depende desses retalhos. Soubeste retirar a beleza de todos esses momentos e aproveita-la. Deixaste aqui uma homenagem lindíssima às Aldeias e deste a conhecer esta realidade que muitos desconheciam. Quem as possa visitar sentirá felicidade naquelas crianças o que não se sente num orfanato. Beijinhos

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  6. Lala que bom teres partilhado aqui esse retalho feliz! Tu és a prova viva da importância destas instituições!! Que bom que tenhas tido essa experiência feliz!! Um grande beijinho!!

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  7. ADOREI... =)

    *** Carina, sobrinha da Clara Figueiredo.

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  8. Um testemunho de vida muito importante, Lala.
    Existem tantas crianças sem família, ou que vivem em famílias de risco... tantas crianças a necessitarem de educação, de carinho e tanta burocracia neste país!

    Ontem, partilhei contigo uma brincadeira que me foi passada pela Brown Eyes... escolhi-te porque transmites "força" vai lá Lala....

    um beijinho e obrigada pela partilha.

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  9. Que bela historia, teve um final muito feliz. Gostaria que as outras crianças também tivessem esse final feliz.
    Bjocas
    Patty

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  10. Oh Sô Dona Lala, fica a saber que algumas das suas leitoras (eu) são umas merdinhas e ficam moles e choramingas e estão nos empregos e não podem explicar porque é que estão a chorar! Isto não se faz!
    Agora a sério. Amei ler este post. Não te conheço, mas desde que aqui venho, tenho a sensação de que és uma pessoa franca e transparente, aqui está a prova. Todas estas coisas que têm a ver com fazer crescer o coração me deixam de quatro. A Mãe Maria Alice fez um trabalho excepcional contigo, e com toda a certexa te ajudou a tecer retalhos bem mais coloridos nessa manta da tua vida. Beijinhos para as duas, e muito obrigada por me fazeres borrar a pintura dos olhos todinha! eheheh

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  11. Lala
    Tenho de te dizer que chorei ao ler o retalho da tua história. E apetece-me dizer à D. Maria Alice que fez um belíssimo trabalho, porque tu cresceste carinhosa, alegre, franca, e muito bonita por dentro (por fora não sei, mas também parece que sim pelas fotos).
    Muitos beijinhos

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  12. gostei de ler e saber! Parabéns pela coragem de partilhar pedaços da tua vida!

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  13. Olá a todos!! A verdade é que esta é um retalho da minha vida do qual tenho muito orgulho! Adoro ser filha das Aldeias SOS e principalmente adoro a Mãe que tenho (que já está muito velhinha mas que continua com muito amor para dar). Assim como as Aldeias SOS existem centenas de instituições cujo objectivo é dar dignidade e uma vida às crianças que não a têm. A única diferencia é que as Aldeias assentam num modelo familiar. Por esse motivo é que se chama "Aldeia", porque é composta por várias casinhas... cada casinha, uma família. Quem tiver oportunidade, assim como a Brown Eyes já o fez, que visite uma destas Aldeias. Que leve os filhos, amigos e familiares... Não sabem como é gratificante ver o sorriso de uma criança... mesmo que seja por uma visita inesperada. Eu bem me lembro!!:D
    Neste momento, para verem como os laços nos ligam, está quase a nascer a Associação de Ex-Utentes das Aldeias de Crianças SOS de Portugal... e através dela seremos nós a ajudar quem mais precisa também!

    Obrigada a todos pelos vossos comentários, que guardarei juntinho ao coração (estes em especial)!

    Brown Eyes - e diz á que não é tão bom ver a alegria daquelas crianças??:D. beijinho especial para ti que 'nos' conheces bem!!

    *Poetic Girl - a tua mãe É LINDA!!

    **meldevespas - a vida, incluindo aquilo que ela não me deu, ensinou-me que o amor existe!

    ***Poetic Girl e meldevespas - espero que essas lágrimas tenham sido de alegria, por existirem no mundo seres como o grande Hermann Gmeiner (já falecido, mas ainda muito amado e respeitado)

    ****MZ - o bom das Aldeias SOS é que "não papam papel". Se têm conhecimento de um caso, rapidamente albergam a criança. movem-se montanhas mas os papéis ficam para segundo plano! não fazem nada à margem da lei, mas com a reputação que têm, depressa conseguem o que precisam para "segurar" as crianças, desde que haja uma mãe com cama livre. Cada mãe SOS tem no máximo 9 filhos... E se por exemplo uma mãe tiver já 5 filhos e aparecer um grupo de cinco irmãos, ela terá que ficar com 10... nunca se separam irmãos!!

    *****johnny - é a história da minha vida. de que me orgulho MUITO!

    Mais uma vez obrigada a todos pelo carinho!!

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  14. Olá Lala! Só agora passei por aqui e devo dizer que estou muito muito emocionada...Eu conheço algum do trabalho realizado por esta instituição, mas ouvir o testemunho assim na primeira pessoa...beijinho muito grande e sim, vamos todos apoiar estas crianças!

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  15. bem Lala, não nos conhecemos, mas eu sou assim uma das tuas "manas" mais velhotas, sou das primeiras da aldeia de Bicesse e fico muito orgulhosa de me rever no teu orgulho de "filha SOS".Afinal as nossas histórias de "familia SOS",são todas muito parecidas e eu que considero que a minha entrada na Aldeia foi um dos melhores momentos da minha infância, fico mesmo muito contente quando sei que outros tambem o sentem, é como dividir o mesmo sentir.
    Beijinho grande e continua a partilhar o que te vai na alma, porque os outros só nos podem amar se nos conhecerem.

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  16. Olá Benvinda! Eu ainda me lembro de ti, não somos do mesmo tempo, é certo, mas somos da mesma casa e da mesma família! Tenho sim muito orgulho!
    Obrigada por teres aqui passado!

    Um beijinho**

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queria escrever aqui qualquer coisa, mas não sei o quê... por isso não escrevo nada, prontoS! Escreve tu... se queres, o espaço é teu, mesmo...! -.-'

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